sexta-feira, 17 de abril de 2009

A minha palavra favorita

Neste caso vou falar não só em uma, mas sim em alguma que usei ou uso com frequência e achei engraçado retratá-las.
Podemos começar pela minha infância, quando era mais jovem e frequentava a escola primária. Todos sabemos que quando somos crianças o nosso português parece mais chinês do que “tuga”, mas, pronto, podemos dar um desconto, mas o engraçado nisto é que muitas palavras soavam bem melhor quando eram pronunciadas à nossa maneira como por exemplo uma que sempre gostei de dizer mas já não o digo com pena é: “disfender” que significa defender.
Mas havia outras como, como “fonix” ou “ fosga-se” em vez de um palavrão, porque, como sabem, antigamente não era permitido dizer palavrões em frente aos pais, por isso arranjava-se maneira de contornar a situação, não querendo dizer que ficássemos impunes do castigo, que por norma era uma boa sova.
Ultimamente temos formas de falar um pouco ligadas à região onde vivemos, mas por exemplo, se vivermos numa grande cidade a linguagem vai ser mais ligada à gíria ou ao calão. Existem várias palavras que podemos dizer estarem ligadas a um tipo de moda. Uso muito estas expressões:

Mas nos últimos anos tenho gostado muito de introduzir a ênfase “Má Man”, porque posso encaixar como primeira pessoa a ter o seu tempo de antena, brilhando positivamente ou negativamente. Se a pessoa estiver a falar de um tema que tenha conhecimento científico na mesma posso dizer “ …má man, sabes mesmo no que falar, meu puto…”, ou se a situação for para o lado negativo posso dizer; “…má man, estas a falhar como as notas de 500€, pá…”

Prevenção Rodoviária

Recordo-me de uma situação caricata, em que intervim, foi numa tarde de sexta-feira, entre amigos combinámos uma jantarada para a tola na casa de um amigo meu. Reunimo-nos ao final do dia depois do trabalho, na casa desse meu amigo e decidimos o que íamos fazer para o jantar. Faltavam alguns adereços para o pitéu, como as “bejecas “, e mais umas algumas coisas.
Combinámos os três ir às compras, íamos ao Inter-Marche no Cacém de Cima e seguimos a estrada que contornava a escola António Sérgio, e ao atravessar a ponte junto à escola, apanhámos um carro de frente em fora de mão devido aos carros que estavam estacionados num lado e do outro da estrada. Nós até íamos na nossa mão porque apanhámos um carro estacionado um pouco antes da curva mas cortava a visibilidade, mas o outro automobilista vinha mesmo fora de mão. Quando nos encarámos ele guinou um pouco para a mão dele mas não foi o suficiente, o meu amigo que ia a conduzir só disse: “já fomos”, e logo de seguida batemos de frente. Eu ia no banco de trás ao centro, mesmo agarrado aos bancos da frente bati com a cabeça no tejadilho do carro, o meu amigo que ia a frente no banco do pendura ao ajeitar as garrafas de cervejas vazias que iam no chão, com a batida do carro bateu com a cabeça no vidro e partiu-o logo Ficámos um pouco abananados com o impacto mas saímos ilesos.
Ao sair do carro esse meu amigo que partiu o vidro com a cabeça, sorte a dele, achou no chão cinco contos, mas para espanto nosso o condutor que vinha no outro carro era um “bofia” ainda por cima fardado. O que achámos graça é que o indivíduo vinha cá com uma tola nem imaginam. Virei-me para o meu amigo que vinha a conduzir e disse-lhe para chamar a polícia porque o outro estava bêbado e tinha de ir ao balão. E isso foi feito. Chegaram os outros polícias e ao verem o seu colega que ainda por cima era uma patente superior bateram logo continência. Os dois condutores foram ao balão, mas para nosso espanto não pudemos ver os resultados do “bofia”, porque os colegas encobriram logo, dizendo assim: “Se quiserem ver os resultados têm de pedir o auto na estação da PSP da Amadora”. Ainda por cima tinha-se de pagar, acho eu, vinte euros. Para espanto meu quando o meu amigo levantou o auto da ocorrência, vinha lá descrito que ele não tinha álcool no sangue e o outro também não.
Conclusão da história, o meu amigo ficou lesado porque ficou com 50/50% de prejuízos e teve que arranjar o carro do seu bolso.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Casa de sonho

Bibliografia de Cesário Verde




José Joaquim Cesário Verde, nascido em Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855 — Lumiar, 19 de Julho de 1886 foi um poeta português.
Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, frequentando por apenas alguns meses o curso de Letras. Ali conheceu Silva Pinto, grande amigo pelo resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as actividades de comerciante, herdadas do pai.
Em 1877 lhe começou a dar sinais a tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes servem de inspiração a um de seus principais poemas, Nós (1884).
Tenta curar-se da tuberculose, sem sucesso; vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde (disponível ao público em 1901), compilação de sua poesia.
De poesia delicada, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, seus cenários prediletos. Evitou o lirismo tradicional, expressando da forma mais natural possível.
Poetização do real
Para Cesário Verde, ver é perceber o que se esconde na realidade, é captar as impressões que as coisas lhe deixam e, por isso, percepciona o real minuciosamente através dos sentidos e reflete essa mesma impressão que o exterior deixa no interior do sujeito poético. Ou seja, o real exterior é apreendido pelo mundo interior que o interpreta e recria com grande nitidez, numa atitude de captação de real pelos sentidos, com predominância dos dados da visão: a cor, a luz, o recorte e o movimento.
A dicotomia cidade/campo
A supremacia exercida pela cidade sobre o campo leva o poeta a tratar estes dois espaços em termos dicotómicos. O contacto com o campo na sua infância determina a visão que dele nos dá e a sua preferência. Ao contrário de outros poetas anteriores, o campo não tem um aspecto idílico, paradisíaco, bucólico, susceptível de devaneio poético, mas sim um espaço real, concreto, autêntico, que lhe confere liberdade. O campo é um espaço de vitalidade, alegria, beleza, vida saudável... Na cidade, o ambiente físico, cheio de contrastes, apresenta ruas macadamizadas/esburacadas, casas apalaçadas (habitadas pelos burgueses e pelos ociosos) /quintalórios velhos, edifícios cinzentos e sujos... O ambiente humano é caracterizado pelos calceteiros, cuja coluna nunca se endireita, pelos padeiros cobertos de farinha, pelas vendedeiras enfezadas, pelas engomadeiras tísicas, pelas burguesias. É neste sentido que podemos reconhecer a capacidade de Cesário Verde em trazer para a poesia o real quotidiano do homem citadino.
Ao ler-se o poema “De Tarde”, pertencente a “Em Petiz”, é visível o tom irónico em relação aos citadinos, mas onde o tom eufórico também sobressai, ao percorrer os lugares campestres ao lado da sua “companheira”. A preferência do poeta pelo campo está expressa nos poemas “De Verão” e “Nós” (o mais longo), onde desaparecem a aspereza e a doença ligadas à vida citadina e surge o elogio ao ambiente campesino. A arte de Cesário Verde é, pois, reveladora de uma preocupação social e intervém criticamente. O campo oferece ao poeta uma lição de vida multifacetada (por exemplo, os camponeses são retratados no seu trabalho diário) que ele transmite com objectividade e realismo. Trata-se, pois, de uma visão concreta do campo e não da abstracção da Natureza.
A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, sendo nela que Cesário encontra os seus temas. É por isto que, habitualmente, se associa o poeta ao mito de Anteu.
A mulher em Cesário Verde
Deambulando pelos dois espaços, depara com dois tipos de mulher, que estão articulados com os locais. A cidade maldita surge associada à mulher fatal, frígida, frívola, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem sentimentos. Em contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino, por exemplo em “A Débil”, que é o oposto complementar das esplêndidas aristocráticas, presentes em poemas como “Deslumbramentos” e “Vaidosa”. Essa mulher é frágil, terna, ingénua e despretensiosa. Outra perspectiva nos é mostrada da mulher (desfavorecida) no campo . A vendedeira em "Num Bairro Moderno", ou a engomadeira em "Contrariedades" mostram as características da mulher do povo no campo. Sempre feias, pobres e por vezes doentes, ou em esforço físico, as mulheres trabalhadoras são objecto da admiração de Cesário. "Depois de referir o cenário geral da acção em "Num Bairro Moderno", os olhos do sujeito poético retêm, como uma objectiva, um elemento novo - a vendedeira. A sua caracterização é de uma duplicidade contrastante: ela é pobre, anémica, feia, veste mal e tem de trabalhar para sobreviver, mas aparece envolvida numa força quase épica, de "peito erguido" e "pulsos nas ilhargas", encarnando, pela sua castidade, a força genuína do povo trabalhador, que Cesário tão bem defende."
A poética de Cesário e as escolas literárias
Podemos afirmar a sua aproximação a várias estéticas. Assim, se se tiver em conta o interesse pela captação do real, pelas cenas de exterior, por quadros e figuras citadinos, concretos, plásticos e coloridos, é fácil detectar aqui a afinidade ao Realismo. A ligação aos ideais do Naturalismo verifica-se na medida em que o meio surge determinante dos comportamentos. Pela objectividade dos temas, baseados na Natureza e no quotidiano, assim como pelas formas exactas e correctas, podemos ver afinidades com o Parnasianismo. Note-se a objectividade defendida por esta escola e pelo autor, mas a subjectividade presente nas suas composições (o poeta que sofre, que revela sentimentos e sensações – “Despertam-me um desejo absurdo de sofrer”, “o gás extravasado enjoa-me, perturba”), o que constitui um desvio em relação à escola parnasiana. Por último, aproxima-se dos impressionistas que captam a realidade mas que a retrata já filtrada pelas percepções. A mulher angélica: Pertencente à cidade, a mulher angélica encarna todas as qualidades do campo. O campo, na poesia de Cesário Verde, aparece como símbolo de vitalidade, trabalho, saúde, liberdade, vida. Sendo que a mulher do campo representa a pureza e a naturalidade, é uma mulher frágil, terna, ingénua e despretensiosa. Por exemplo no poema "A Débil", aparece-nos uma mulher com estas características que acima referi só que, habitando na cidade. Importância da representação do quotidiano na poesia de Cesário Verde
A observação das situações do quotidiano é o ponto de partida preferencial para os poemas de Cesário Verde. É o mundo real, rotineiro, que é retractado e analisado, servindo de suporte às ideias e sentimentos do poeta.
Os sujeitos poéticos criados por Cesário Verde são atentos ao que se passa. Aquilo que para outro transeunte seria uma banalidade é, na perspectiva do poeta, parte de um quadro do real. Veja-se que antes de se focar numa situação particular, que prenda a atenção, o poeta dá-nos uma visão geral do ambiente: “Dez horas da manhã, os transparentes/Matizam uma casa apalaçada (...) E fere a vista, com brancuras quentes, a larga rua macadamizada” (em “Num bairro moderno”). Mas, apesar de existirem situações particulares, estas poderiam ser integradas no movimento quotidiano de uma rua de uma cidade onde “(...) rota, pequenina azafamada,/Notei de costas uma rapariga” (em “Num bairro moderno”), mas que para o sujeito poético tomam uma nova dimensão. Um processo análogo pode verificar-se em “Cristalizações”, onde as primeiras estrofes constituem uma visão panorâmica, para se focar mais à frente nos “calceteiros” ou na “actriz”. É essencialmente destacado o quotidiano urbano, onde o sujeito poético deambula, sendo o poema “O sentimento de um ocidental” aquele em que é mais clara a descrição do dia-a-dia como ponto de partida para a revolta contra a vivência desumana da cidade. Aliás, Cesário Verde está longe de se deixar na passividade da observação casual, e repara naquilo, que tendo-se tornado parte de cada dia, é um factor de animalização e doença. Outras vezes, partindo da realidade, transfigura-a, num impulso salutar, em que tudo parece tomar formas orgânicas e vivas em oposição ao emparedamento das ruas da cidade: “Se eu transformasse os simples vegetais, num ser humano que se mova e exista/Cheio de belas proporções carnais?!”.
Linguagem e estilo
Eis algumas das características estilísticas e linguísticas: vocabulário objectivo; imagens extremamente visuais de modo a dar uma dimensão realista do mundo (daí poeta-pintor); pormenor descritivo; mistura o físico e o moral; combina sensações; usa sinestesias, metáforas, comparações, hipálage; emprega dois ou mais adjectivos a qualificar o mesmo substantivo; quadras, em versos decassilábicos ou alexandrinos; utilização do “enjambement”.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

11 de setembro

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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Alexandre O'Neill


Poeta português, descendente de irlandeses e nascido em Lisboa. Autodidacta, fez os estudos liceais, frequentou a Escola Náutica (Curso de Pilotagem), trabalhou na Previdência, no ramo dos seguros, nas bibliotecas itinerantes da Fundação Gulbenkian, e foi técnico de publicidade. Durante algum tempo, publicou uma crónica semanal no Diário de Lisboa. Datam do ano de 1947 duas cartas de O'Neill que demonstram o seu interesse pelo surrealismo, dizendo numa delas (de Outubro) possuir já os Manifestos de Breton e a Histoire du Surrealisme de M. Nadeau. Nesse mesmo ano, O'Neill, Cesariny e Mário Domingues começam a fazer experiências a nível da linguagem, na linha do surrealismo, sobretudo com os seus Cadáveres Esquisitos e Diálogos Automáticos, que conduziam ao desmembramento do sentido lógico dos textos e à pluralidade de sentidos. Por volta de 1948, fundou com o poeta Cesariny, com José-Augusto França, António Pedro e Vespeira o Grupo Surrealista de Lisboa. Com a saída de Cesariny, em Agosto de 1948, o grupo cindiu-se em dois, dando origem ao Grupo Surrealista Dissidente (que integrou, além do próprio Cesariny, personalidades como António Maria Lisboa e Pedro Oom). Em 1949, tiveram lugar as principais manifestações do movimento surrealista em Portugal, como a Exposição do Grupo Surrealista de Lisboa (em Janeiro), onde expuseram Alexandre O'Neill, António DaCosta, António Pedro, Fernando de Azevedo, João Moniz Pereira, José-Augusto França e Vespeira. Nessa ocasião, Alexandre O'Neill publicou A Ampola Miraculosa, constituída por 15 imagens sem qualquer ligação e respectivas legendas, sem que entre imagem e legenda se estabelecesse um nexo lógico, o que torna altamente irónico o subtítulo da obra, «romance». Esta obra poderá ser considerada paradigmática do surrealismo português. Foram lançados, ainda nesse ano, os primeiros números dos Caderno Surrealistas. Em Maio do mesmo ano, foi a vez de o Grupo Surrealista Dissidente organizar uma série de conferências com o título geral «O Surrealismo e o Seu Público», em que António Maria Lisboa leu o que se pode considerar o primeiro manifesto surrealista português. Houve ainda mais duas exposições levadas a cabo por este grupo (em Junho de 1949 e no ano seguinte, no mesmo mês), sem grande repercussão junto do público. Depois de uma fase de ataques pessoais entre os dois grupos (1950-52), que atingiram sobretudo José-Augusto França, e após a morte de António Maria Lisboa, extinguiram-se os grupos surrealistas, continuando todavia o surrealismo a manifestar-se na produção individual de alguns autores, incluindo o próprio Alexandre O'Neill, que se demarcara, já em 1951, no Pequeno Aviso do Autor ao Leitor, inserido em Tempo de Fantasmas. Nessa mesma obra, sobretudo na primeira parte, Exercícios de Estilo (1947-49), a influência do surrealismo manifesta-se em poemas como Diálogos Falhados, Inventário ou A Central das Frases e na insistência em motivos comuns a muitos poetas surrealistas, como a bicicleta e a máquina de costura. Na segunda parte da obra, Poemas (1950-51), essa influência, embora ainda presente, é atenuada, como acontecerá em No Reino da Dinamarca (1958) e Abandono Vigiado(1960).

A poesia de Alexandre O'Neill concilia uma atitude de vanguarda (surrealismo e experiências próximas do concretismo) — que se manifesta no carácter lúdico do seu jogo com as palavras, no seu bestiário, que evidencia o lado surreal do real, ou nos típicos «inventários» surrealistas — com a influência da tradição literária (de autores como Nicolau Tolentino e o abade de Jazente, por exemplo). Os seus textos caracterizam-se por uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses, destruindo a imagem de um proletariado heróico criada pelo neo-realismo, a que contrapõe a vida mesquinha, a dor do quotidiano, vista no entanto sem dramatismos, ironicamente, numa alternância entre a constatação do absurdo da vida e o humor como única forma de se lhe opor. Temas como a solidão, o amor, o sonho, a passagem do tempo ou a morte, conduzem ao medo (veja-se «O Poema Pouco Original do Medo», com a sua figuração simbólica do rato) e/ou à revolta, de que o homem só poderá libertar-se através do humor, contrabalançado por vezes por um tom discretamente sentimental, revelador de um certo desespero perante o marasmo do país — «meu remorso, meu remorso de todos nós». Este humor é, muitas vezes, manifestado numa linguagem que parodia discursos estereotipados, como os discursos oficiais ou publicitários, ou que reflecte a própria organização social, pela integração nela operada do calão, da gíria, de lugares-comuns pequeno-burgueses, de onomatopeias ou de neologismos inventados pelo autor. Alexandre O'Neill escreveu Tempo de Fantasmas (1951), No Reino da Dinamarca (1958), Abandono Vigiado (1960), Poemas com Endereço (1962), Feira Cabisbaixa (1965), De Ombro na Ombreira (1969), Entre a Cortina e a Vidraça (1972), A Saca de Orelhas (1979), As Horas Já de Números Vestidas (1981), Dezanove Poemas (1983) e O Princípio da Utopia (1986). A sua obra poética foi ainda recolhida em Poesias Completas, 1951-1983 (1984). Foi ainda editada uma antologia, postumamente, com o título Tomai Lá do O'Neill (1986). Publicou dois livros em prosa narrativa, As Andorinhas não Têm Restaurante (1970) e Uma Coisa em Forma de Assim (1980, volume de crónicas), e as Antologias Poéticas de Gomes Leal e de Teixeira de Pascoaes (em colaboração com F. Cunha Leão), de Carl Sandburg e João Cabral de Melo Neto. Gravou o disco «Alexandre O'Neill Diz Poemas de Sua Autoria». Em 1966, foi traduzido e publicado na Itália, pela editora Einaudi, um volume da sua poesia, Portogallo Mio Rimorso. Recebeu, em 1982, o Prémio da Associação de Críticos Literários.

A BicicletaO meu marido saiu de casa no dia 25 de Janeiro. Levava uma bicicleta a pedais, caixa de ferramenta de pedreiro, vestia calças azuis de zuarte, camisa verde, blusão cinzento, tipo militar, e calçava botas de borracha e tinha chapéu cinzento e levava na bicicleta um saco com uma manta e uma pele de ovelha, um fogão a petróleo e uma panela de esmalte azul. Como não tive mais notícias, espero o pior. As horas já de números vestidas(1981)

Singularidades de uma rapariga loira



Panorama visto pelo Narrador:
Macário, um homem desolado, contou-me a sua história numa estalagem, com a influência da vinhaça do Norte, dizendo-me que havia tido um caso complicado da sua vida, depois de termos mamado 3 garrafas da vinhaça pura do Norte. Quando era jovem apaixonou-se.
Tudo começou quando trabalhava no armazém do seu tio Francisco onde era guarda-livros, “arranjou mas é um tacho a pala do tio”. Um dia foi morar para a frente do seu armazém, uma rapariga loira (burra). Acho que foi amor à primeira vista, porque ele nunca tinha galado uma loiraça, e andava há caça do gado. Chamava-se Luísa. Foram precisos poucos dias para que ficasse cegamente apaixonado…”otário”.
Mas foi uma conquista difícil, porque Macário era um bocado “otário” ou “totó”, era muito tenrinho na matéria do engate, e ela mostrava ser de um nível superior ao dele…claro que ela era uma mera plebeia com a mania. Finalmente…com muito sofrimento e batimento, consegui cansar a “fera”, … conseguira mostrar que estava interessado nela, e ela já o tinha debaixo de olho, porque ele tinha um trabalho honrado…”um tacho”, e o seu tio tinha algumas posses” o cota é que tinha a guita toda e ele era um pendura”. Penso que era nos seus valores que ela estaria interessada…”claro que a chavala queria era massa, “otário”.
Quando um dia resolveu casar…”já era o desespero”, sem a permissão do seu tio ”claro que o tio não era otário”, o jovem ficou na pobreza “coitado!” visto que ninguém lhe dava trabalho para não acabar com a amizade de anos com seu tio…”ele devia pensar que era alguma vedeta para orientar bules assim á toa”.
Um dia apareceu um amigo de Macário, que usava um chapéu de palha…”tipo Zezé Camarinha (o Dom Ruan dos Algarves)”, passando a mensagem que havia trabalho com uma boa recompensa em Cabo Verde. Macário aceitou a proposta e lá foi. Após fazer fortuna em Cabo Verde… “ teve lá a enganar os black´s mas é!”, regressou e o casamento ficou marcado para dali a um ano depois, de modo a que Macário pudesse enriquecer e depois sim, criar família.
Quando faltavam apenas dois meses para o casamento, o amigo do chapéu de palha, pediu-lhe para ser seu fiador de uma grande quantia “ grande otário, era mesmo comigo emprestar combu assim á toa”…, e após Macário ter aceitado, desapareceu…” em bem feito para ele abrir a pestana, OTARIO”…, deixando ao jovem a infelicidade de ter de pagar a dívida desse “amigo”, ficando outra vez pobre novamente.
Sem saber o que fazer o rapaz tencionava voltar a Cabo Verde quando seu tio lhe oferece, inesperadamente, no dia em que se foi despedir dele, o seu antigo trabalho de volta…” vá lá que ainda há camelos com sorte”.
A poucos dias do casamento levou a sua noiva a uma ourivesaria para escolher o anel de noivado. Escolheram um anel de pérolas, mas o mesmo estava apertado e por isso teriam que voltar no dia seguinte para o receber e pagar. Naquela situação de impasse Macário não reparou que Luísa teria escondido outro anel…”já eras”…, mas ao saírem, o empregado, reclamou pelo objecto roubado, Macário surpreso e a querer defender a dignidade da sua noiva, que estaria a ser suspeita de roubo, disse que seria um engano, mas o empregado continuou a insistir que teria que pagar o anel. Macário numa situação de desespero queria apaziguar a situação…” agora já e tarde meu amigo”…, mas nesse momento ela, descomposta, deixa cair o anel. Macário, branco, compôs-se da situação, abriu a carteira e pagou.
Acho que foi o suficiente para ele abrir os olhos, e reparar que a sua amada não passava de uma ladra, de uma pessoa com duas intenções. Assim Macário despachou a sua noiva, e passou o resto da sua vida a lamentar-se desta situação que poderia ter um caminho mais bonito.
Nunca na minha vida ouvi de um caso tão deprimente como este, e foi assim que o encontrei nesta estalagem do Minho e………

FIM.